A longevidade feminina tem experimentado uma transformação notável, marcando um aumento significativo na expectativa de vida das brasileiras. Se no início do século passado a média era de pouco mais de 33 anos, hoje ela se aproxima dos 80. Essa conquista, porém, trouxe um novo desafio: a maioria das mulheres agora passa um terço de suas vidas na menopausa, uma fase ainda envolta em tabus e desinformação. A discussão aberta sobre a menopausa e o climatério é fundamental para garantir que essa extensão da vida seja vivida com qualidade e bem-estar, desmistificando sintomas e oferecendo caminhos para um envelhecimento saudável.
O impacto da longevidade na jornada feminina
A transição para a menopausa, conhecida como climatério, afeta uma parcela substancial da população feminina no Brasil, com estimativas apontando para mais de 30 milhões de mulheres vivenciando essa fase. A perimenopausa, o período que antecede a menopausa, pode ser um divisor de águas na vida de muitas, como foi para a jornalista Maria Cândida. Ela descreve a experiência como um “furacão, uma tempestade, um chacoalhão”, sentindo uma exaustão tão profunda que a levava a querer permanecer deitada no sofá. Irritabilidade, insônia e uma marcante perda de libido estavam entre os sinais mais fortes que a surpreenderam.
A face oculta dos sintomas do climatério
A falta de conhecimento sobre o climatério pode levar a diagnósticos equivocados e a uma sensação de isolamento. Adriana Ferreira, presidente do Instituto Menopausa Feliz, relata ter sido rotulada em seu prontuário como “mulher poliqueixosa” por anos, sem que a palavra climatério sequer fosse mencionada. Essa invisibilidade diagnóstica reflete uma lacuna na compreensão e no cuidado com a saúde da mulher nessa etapa da vida. A experiência de Maria Cândida e Adriana Ferreira ressalta a importância de um diálogo mais aberto e de um conhecimento aprofundado sobre os diversos sintomas, muitas vezes subjetivos e multifacetados, que caracterizam a menopausa e o climatério. A identificação precoce e a busca por tratamento adequado são cruciais para mitigar o sofrimento e melhorar a qualidade de vida.
Desvendando a terapia de reposição hormonal e seus benefícios
Felizmente, existem opções de tratamento eficazes para os sintomas da menopausa. A Terapia de Reposição Hormonal (TRH) é uma das alternativas mais estudadas e recomendadas, sempre de acordo com a individualidade de cada caso e sob orientação médica especializada, conforme as diretrizes da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Ambas, Maria Cândida e Adriana Ferreira, encontraram alívio e melhora significativa em sua qualidade de vida após iniciarem a TRH.
O papel crucial do diagnóstico precoce e a menopausa antecipada
A ginecologista Beatriz Tupinambá enfatiza que o momento ideal para iniciar a TRH é antes da instalação completa da menopausa, ou seja, durante o climatério. A médica alerta que os sintomas vivenciados durante essa transição não são meramente incômodos passageiros, mas sim indicadores de mudanças fisiológicas mais profundas e potenciais riscos à saúde. A perda óssea, o aumento do risco cardiovascular e a elevação da hipertensão são preocupações sérias que surgem após a menopausa. Um dado alarmante é que, após essa fase, a proporção de mulheres que sofrem infarto em relação aos homens aumenta significativamente, chegando a duas mulheres para cada homem.
Além da menopausa natural, há também a menopausa precoce, que afeta cerca de 1% das mulheres. A atriz Julieta Zarza recebeu o diagnóstico aos 37 anos, sentindo-se com uma “data de validade vencida”. A confeiteira Nayele Cardoso viveu situação semelhante aos 27, sendo informada apenas que não poderia ter filhos. A clínica geral Andrea Alvarenga explica que fatores genéticos, cirurgias, tratamentos como quimioterapia ou a presença de doenças autoimunes podem antecipar a menopausa, ressaltando a complexidade e a variedade das causas.
Menopausa e o ambiente de trabalho: um desafio silencioso
O impacto da menopausa transcende a esfera pessoal e atinge o ambiente profissional. Uma pesquisa conduzida pela consultoria Korn Ferry, que ouviu mais de 8 mil mulheres em três países, revelou que 47% delas sentiram impactos diretos da menopausa em seu trabalho. Os sintomas mais frequentemente citados foram estresse, dificuldade de concentração e perda de paciência. Adriana Rosa, sócia da Korn Ferry, destaca a necessidade de as empresas e a sociedade em geral reconhecerem e acolherem essa realidade, oferecendo suporte e compreensão para que as mulheres possam manter sua produtividade e bem-estar na carreira.
Políticas públicas e a busca por um cuidado integral
No Brasil, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNIASM), estabelecida em 2004, orienta o cuidado no Sistema Único de Saúde (SUS). Contudo, Maria Teresa Rossetti Massari, da Fiocruz, observa que “não temos tantas ações voltadas para mulheres na transição da menopausa”, indicando a necessidade de maior atenção e recursos específicos. Embora o Ministério da Saúde afirme que há suporte na atenção primária, com consultas, exames, medicamentos e práticas integrativas, e que casos mais complexos são encaminhados a especialistas, a percepção de falta de ações direcionadas persiste.
O Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP) se destaca como principal referência pública no país nesse tema. José Maria Soares Júnior, chefe do Ambulatório de Climatério, revela que a unidade realiza entre 90 e 120 atendimentos por semana. Além das consultas especializadas, o HC oferece uma gama completa de exames e a terapia hormonal, sempre seguindo rigorosos protocolos clínicos. A existência de centros de referência como o HC/USP demonstra a importância do cuidado especializado e a necessidade de expandir esse modelo para outras regiões do país, garantindo acesso equitativo a todas as mulheres.
Conclusão
A menopausa, longe de ser uma fase de declínio ou um segredo a ser guardado, é uma etapa natural e significativa na vida de milhões de mulheres. O aumento da longevidade feminina impõe a urgência de desmistificar o climatério, promover o acesso à informação de qualidade e garantir um suporte médico e psicossocial adequado. Desde a compreensão dos sintomas e o acesso à terapia de reposição hormonal, até a atenção à menopausa precoce e o suporte no ambiente de trabalho, é imperativo que a sociedade e as políticas de saúde evoluam para abraçar as necessidades específicas das mulheres. Investir em educação e saúde para essa fase da vida não é apenas uma questão de bem-estar individual, mas um passo fundamental para o empoderamento e a qualidade de vida de um terço da existência feminina.
Perguntas frequentes (FAQ)
1. O que é climatério e qual a diferença para a menopausa?
O climatério é o período de transição da vida reprodutiva para a não reprodutiva da mulher, que pode durar vários anos e é marcado por flutuações hormonais e sintomas. A menopausa, por sua vez, é um evento único que marca o fim permanente da menstruação, geralmente confirmado após 12 meses consecutivos sem períodos.
2. Quais são os sintomas mais comuns da menopausa e do climatério?
Os sintomas variam, mas os mais comuns incluem ondas de calor (fogachos), suores noturnos, alterações de humor (irritabilidade, ansiedade, depressão), insônia, fadiga, ressecamento vaginal, diminuição da libido, dores nas articulações, dificuldade de concentração e perda de memória.
3. A Terapia de Reposição Hormonal (TRH) é segura para todas as mulheres?
A TRH é uma opção de tratamento eficaz para muitas mulheres, mas não é indicada para todas. A segurança e a eficácia da TRH dependem do histórico de saúde individual da mulher, dos sintomas apresentados e de outros fatores. É fundamental que a decisão de iniciar a TRH seja tomada em conjunto com um médico ginecologista, após uma avaliação detalhada e discussão dos riscos e benefícios.
4. Como a menopausa afeta a saúde óssea e cardiovascular?
Após a menopausa, a queda dos níveis de estrogênio acelera a perda óssea, aumentando o risco de osteoporose e fraturas. Além disso, o estrogênio tem um papel protetor no sistema cardiovascular; sua diminuição pode levar ao aumento do risco de doenças cardíacas, hipertensão e infarto. O acompanhamento médico é crucial para monitorar e prevenir essas condições.
Procure orientação médica especializada para entender suas opções de tratamento e garantir uma jornada saudável pela menopausa.

