Imagine um futuro onde a exuberância da Floresta Amazônica se entrelaça com a produtividade da agricultura familiar, onde o cacau floresce à sombra das gigantescas castanheiras-do-pará. Essa visão, longe de ser uma utopia, representa uma das estratégias mais promissoras para combater as mudanças climáticas e garantir a segurança alimentar: a agrofloresta.
Thank you for reading this post, don't forget to subscribe!Especialistas e ativistas ambientais convergem em um ponto crucial: a combinação entre produção agrícola e preservação ambiental é fundamental para reverter os impactos negativos da ação humana no planeta. Eventos climáticos extremos, como as recentes enchentes no Sul e a prolongada seca no Nordeste, são um claro alerta da necessidade urgente de repensarmos nosso modelo de desenvolvimento.
A agrofloresta surge como um “casamento” perfeito entre a sabedoria ancestral e a inovação tecnológica, um modelo de uso da terra justo e sustentável. Ao transformar técnicas de monocultura em sistemas biodiversos, otimizando terrenos e promovendo a interação entre diferentes espécies, a agrofloresta se consolida como uma das principais apostas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
O que é Agrofloresta?
A agrofloresta transcende a mera técnica de plantio. É uma filosofia que busca harmonizar a produção de alimentos com a preservação dos recursos naturais, priorizando a ecologia em detrimento de agrotóxicos e produtos químicos. A combinação de plantas menores, como hortaliças e leguminosas, com árvores de grande porte, cujas raízes profundas garantem a captação de água e a sombra protetora, cria um microclima favorável ao desenvolvimento de diversas espécies.
Essa sinergia resulta na diminuição da emissão de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera, o principal gás responsável pelo efeito estufa e pelo aquecimento global. Quanto mais árvores vivas, maior a absorção de carbono pelas plantas e menor a concentração desse gás nocivo na atmosfera.
Moisés Savian, engenheiro agrônomo e secretário do Ministério do Desenvolvimento Agrário, em entrevista ao podcast S.O.S! Terra Chamando!, destaca que a agrofloresta atua em duas frentes: mitigação e adaptação.
“Ao diminuir a emissão de carbono, estamos mitigando os efeitos das mudanças climáticas. Se transformamos um pasto degradado em uma agrofloresta, trazemos para a superfície o carbono que está em excesso na atmosfera. Além disso, se associamos uma lavoura de milho, vulnerável à seca, a uma floresta com árvores de raízes profundas, o milho se beneficiará da captação de água da floresta”, explica Savian.
A agrofloresta não se limita à questão ambiental. Ela também impulsiona a geração de renda e a produção de alimentos, combatendo a fome e promovendo a justiça social.
A Sabedoria Ancestral dos Povos Indígenas
A ideia de florestas produtivas ganhou destaque durante a COP30, realizada em Belém, no coração da Amazônia. No entanto, essa prática é um caminho ancestral, trilhado há milênios pelos povos indígenas.
Carlos Nobre, renomado climatologista, ressalta que os indígenas, ao longo de sua história na Amazônia, sempre utilizaram o conhecimento da biodiversidade para garantir sua saúde, alimentação e bem-estar. Eles conhecem e utilizam mais de 2,3 mil produtos da biodiversidade, incluindo 250 frutas alimentares e 1.450 plantas medicinais.
A Floresta em Pé, embora ainda em expansão, tem conquistado adeptos em todo o mundo. No Pará, diversos projetos de agrofloresta estão transformando a realidade de comunidades rurais, gerando renda, protegendo o meio ambiente e promovendo a segurança alimentar.
Exemplos Inspiradores no Brasil e no Mundo
Em Botuporã, na Bahia, um projeto de cooperação internacional une moradores e jovens lideranças para promover a agroecologia. Em parceria com comunidades da França, o município tem valorizado agricultores, capacitado jovens e promovido a troca de saberes sobre sustentabilidade.
Yago Fagundes, estudante de Direito, participou de um programa de imersão em agroecologia na França e aplicou seus conhecimentos no Brasil. Ele destaca o “empoderamento rural” proporcionado pelo projeto, que capacitou agricultores na produção de queijo Tomme de Vache, utilizando uma receita milenar de forma sustentável.
William Torres, jornalista socioambiental, ressalta a importância da agroecologia para além da produção de alimentos livres de agrotóxicos. Ele a considera um resgate da história, da relação profunda com a natureza e do senso de comunidade.
O Futuro da Agrofloresta no Brasil
Moisés Savian vislumbra um futuro promissor para a agrofloresta no Brasil. Ele acredita que o país tem a oportunidade de se destacar como líder na produção de alimentos resilientes, de baixo carbono e biodiversos.
Para isso, é fundamental investir em crédito agrícola para capacitar pequenos agricultores e produtores rurais, incentivando a adoção de técnicas de produção sustentável. Além disso, é preciso conscientizar os consumidores sobre a importância de valorizar os produtos da agrofloresta, criando um mercado que impulsione a economia sustentável.
A agrofloresta não é uma solução mágica para a crise climática, mas sim um “remedinho homeopático” que, aliado a outras medidas, como a restauração florestal e o combate ao desmatamento, pode contribuir para um futuro mais verde e próspero para o Pará e para o planeta.
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